quarta-feira, 7 de setembro de 2011

um sexto da humanidade não tem o que comer

Genocídio silencioso: um sexto da humanidade não tem o que comer


Há um genocídio silencioso no mundo. Talvez seja esse o melhor adjetivo para definir o tamanho da desgraça provocada pela insanidade humana.

Jean Ziegler

900 milhões de pessoas subalimentadas no mundo. Ou seja, quase um sexto da humanidade não tem o que comer. 100 mil pessoas morrem ao dia no mundo devido à fome. Esses são alguns dados que o suíço Jean Ziegler, professor de sociologia em Genebra e na Sorbonne, e relator especial da ONU sobre o direito à alimentação disparou, em recente visita ao Brasil. Autor de ácidos estudos sobre a fome no mundo, Ziegler veio ao Brasil em agosto, para participar de um seminário promovido pela Fundação João Mangabeira do Partido Socialista Brasileiro.

Jean Ziegler afirma: “se juntarmos alguns males do subdesenvolvimento, tais como fome, epidemia, guerras induzidas pelas multinacionais, verificaremos que, no ano passado, houve um total de mais de 58 milhões de vítimas, segundo os critérios da ONU, 2 milhões a mais que o total de vítimas da II Guerra Mundial, a maior guerra da humanidade, que durou seis anos.” O professor de sociologia não vê saídas à “ditadura mundial da desigualdade” e ao genocídio silencioso no planeta sem a realização de Reforma Agrária, o rompimento com o sistema financeiro mundial e a quebra da ideologia alienante do neoliberalismo, destinada a romper a resistência.

Para falar sobre a ditadura do capital financeiro, que segundo Ziegler é uma ditadura mundial que cria um mundo de total desigualdade, de riquezas imensas nas mãos de algumas oligarquias que são detentoras desse capital financeiro mundial, que gera riquezas muito grandes para alguns e miséria imensa e progressiva para a maioria, ele deu a seguinte entrevista ao Jornal Sem Terra.

JST - Que análise o senhor faz da situação econômica do mundo hoje, principalmente no que se refere aos países do Terceiro Mundo?
Jean Ziegler - Primeiramente, quero dizer que vivemos a ditadura do capital financeiro. É uma ditadura mundial que cria um mundo de total desigualdade, de riquezas imensas nas mãos de algumas oligarquias que são detentoras desse capital financeiro mundial, que gera riquezas muito grandes para alguns e miséria imensa e progressiva para a maioria. A população grave e permanentemente subalimentada no mundo soma cerca de 900 milhões de pessoas, aumentando a cada ano. Isso é quase 1/6 da humanidade, já que somos 6 bilhões de pessoas. A população subalimentada é destruída fisicamente por invalidez, sendo que 100 mil pessoas morrem por dia devido à fome.
Há 22 organizações especializadas em agricultura nas Nações Unidas. Uma delas, voltada para nutrição e agricultura, publicou um relatório revelando que a agricultura mundial, agora, poderia alimentar 12 bilhões de pessoas. Isso significa dar a cada indivíduo, diariamente, 2600 calorias. Ou seja, somos a metade de 12 bilhões e, a cada dia, morrem 100 mil pessoas vítimas da fome e centenas de milhões estão gravemente subalimentadas, são inválidas, incapazes de trabalhar e ter uma vida normal. Além disso, esse mal se transmite de geração a geração, sobretudo na Ásia do Sul e África, mas também aqui, porque cada uma em quatro crianças da América Latina com menos de 15 anos é gravemente subalimentada. Desse modo, há um genocídio silencioso num planeta que pode alimentar o dobro de sua população e uma reprodução biológica desse genocídio, pois há centenas de milhões de crianças que morrem na gestação, vítimas do mal desenvolvimento do feto ou do leite materno pobre em nutrientes, ou mesmo a falta de leite. Uma pessoa que morre de fome ou que tem uma vida sob a invalidez, com sofrimento permanente e crônico, é vítima de um assassinato e não de uma fatalidade. Há um culpado. É um massacre como o do Eldorado de Carajás. Os donos de multinacionais devem ser responsabilizados pelo crime. É possível identificar individualmente os assassinos. Esse é o quadro quando avaliamos somente o problema da fome. Entretanto, há outras questões, como a saúde. A Organização Mundial da Saúde faz, por exemplo, o inventário das epidemias que matam milhões de africanos, que não têm dinheiro para comprar medicamentos produzidos pelos grandes capitalistas. Os povos que vivem no hemisfério sul (4,2 bilhões de pessoas, ou seja, ¾ da humanidade) sofrem de tuberculose e malária e acabam morrendo, e os brancos da Europa, América do Norte e Austrália, que são 22% dos brancos no mundo, não sofrem isso. Epidemias matam, fome mata. Nos países subdesenvolvidos, 2 bilhões de pessoas não têm acesso à água potável, que apresenta perigo à saúde. Há mais de 18 milhões de casos de diarréia resultante de água imprópria para consumo. Além das mais de 400 milhões de pessoas que morrem, ao ano, devido a problemas com a água. E se juntarmos todos esses números do subdesenvolvimento (fome, epidemia, guerras induzidas pelas multinacionais na África etc.), verificamos que, no ano passado, houve um total de mais de 58 milhões de vítimas, segundo os critérios da ONU. Dois milhões a mais que o total de vítimas da II Guerra Mundial, a maior guerra da humanidade, que durou seis anos, de 1939 a 1945. Ou seja, a III Guerra Mundial já está em curso no Terceiro Mundo.

JST - Diante desse cenário, quais são as alternativas para os países pobres?
Jean Ziegler - Existem muitas armas. Há um problema grave para todos nós. Pablo Neruda, um grande poeta, disse: “As piores cadeias são as da cabeça”. A grande predominância do modelo e pensamento neoliberais, de que são arautos a TV Globo, Banco Mundial, o império americano, que vê esse modelo como lei natural e a mão invisível do mercado como única maneira de animar a economia, distribuir a riqueza do mundo etc., é uma mentira de classe. É um clássico argumento. É preciso quebrar as imagens alienantes, as falsidades, as mentiras que são fábricas de ideologia para desarmar a resistência. A primeira luta de classe, ao meu ver, é essa luta teórica. E, depois, partir para o combate à situação material. A Polícia Militar que mata é, por exemplo, uma forma de repressão. O Brasil é um país muito poderoso, um laboratório da revolução mundial, e por isso estou com muito otimismo. É formidável ver a organização do Movimento dos Sem Terra hoje no Brasil. É incrível.

JST - Como senhor vê a questão da Reforma Agrária e qual o papel dela neste contexto mundial?
Jean Ziegler - Não há como resolver o problema sem Reforma Agrária. Precisamos de uma reforma para quebrar a tirania mundial do capital financeiro que determina tudo, a propriedade da terra, o comércio. Nesse sentido, tenho uma verdadeira admiração pelo MST. É um verdadeiro movimento revolucionário.

JST - E como o senhor avalia iniciativas como o Fórum Social Mundial?
Jean Ziegler - São muito boas e essenciais. O único problema é que devemos trazer africanos e árabes também, dar a luz a outros continentes. O Che não pôde participar da Conferência Tricontinental, em janeiro de 1966, mas a idéia do Che de criar frentes de resistência era muito importante. O MST é uma frente de resistência. Se houver muitas dessas frentes, as forças de repressão, mesmo do império americano, perdem intensidade, e um novo mundo pode surgir rapidamente. Se analisarmos o Brasil, por exemplo, que está em grande parte entregue às multinacionais, à burguesia, o inimigo é terrível, com certeza. Todavia, se esse inimigo tem muitos adversários, ele não pode resistir por muito tempo.

JST - As elites insistem em dizer que o Fórum Social Mundial não apresentou propostas concretas de solução. O que o senhor pensa disso?
Jean Ziegler - Não há problema nisso. Não é essa nossa tarefa, não é possível projetar um modelo. Seria arrogância total. Sabemos o que não queremos e ao quê somos intolerantes. Como a fome, por exemplo. Um deputado federal da Suíça lutava sempre em seu mandato contra o ciclo bancário, pois a Suíça é o país mais rico do mundo, em termos per capita. Não tem matéria-prima, mas tem o capital do mundo inteiro, advindo inclusive da corrupção, criando uma riqueza incrível para a oligarquia bancária. Eu não quero, como suíço, viver bem do sangue dos povos do mundo. E por isso quero quebrar o ciclo bancário, acabar com a fuga de capitais, com a pilhagem financeira; eu sei o que não quero. E o destino coletivo dos suíços, quando essa ditadura do capital for quebrada, depende do mistério da liberdade. O caminho se faz ao caminhar, como diz o grande poeta Antônio Machado. E esse é um processo revolucionário.

JST - E sobre a dívida externa. O senhor acha que o Brasil deve romper com o sistema financeiro, com a moratória da dívida externa?
Jean Ziegler - Totalmente. Não há outra possibilidade. Sempre digo que se fosse possível colocar Jesus Cristo no poder amanhã, no México, Brasil, não mudaria nada.

Jornal dos Trabalhadores Rurais sem Terra

Um sexto da humanidade não tem o que comer

domingo, 4 de setembro de 2011

Associação dos professores de filosofia e filósofos do Estado de São Paulo.

Associação dos professores de filosofia e filósofos do Estado de São Paulo.
Plenária Estadual dos Professores de Filosofia e Filósofos, no dia 24 de setembro de 2011, às 10 horas, Rua Doutor José de Queirós Aranha, 342 – Vila Mariana – SP, Próximo ao Metrô Ana Rosa.
                                                       Comunicado
No dia 18 de agosto de 2011, realizamos uma reunião com  dirigentes  da Aproffesp, as 14 horas, no centro de São Paulo, onde foi  deliberado :
Vamos confeccionar um boletim da Associação para ser distribuído na assembléia estadual dos professores que será realizada no dia 02/09/2011, as 14 horas na praça da república, convidando os interessados para uma plenária estadual de professores de filosofia a ser realizada no dia 24 de setembro de 2011, as 10 horas na Vila Mariana, Capital.
Pauta da Plenária:
1-A estruturação e organização diante da ofensiva dos governos;
2-Ampliação do número de aulas de filosofia no segundo e terceiro ano do ensino médio;
3- implantação da filosofia no ensino fundamental,  com base na enquete promovida pela aproffesp;
4- Nossa participação no caderno da revista de filosofia e como divulgá-lo nas escolas;
5-Atuação e funcionamento pra valer do coletivo Estadual de filosofia, Sociologia e Psicologia, bem como nossa atuação no Coletivo Nacional de filosofia.
6-Organizar núcleos da aproffesp no Estado.
Sem mais,
Atenciosamente,
Diretoria da
Associação.

Avança a Organização dos Professores de filosofia
A histórica luta pela volta da Filosofia no Ensino Médio
A Luta pela obrigatoriedade da Filosofia e da Sociologia na grade curricular percorreu um longo caminho até os dias atuais. Nessa luta, a atuação organizada de entidades afins e da APEOESP, foi determinante, dado a sua capacidade de mobilização e articulação política no cenário Nacional. Contudo, a participação dos professores nessa luta foi fundamental no seu cotidiano, nos encontros realizados, nas caravanas à Brasília e no acompanhamento direto aos processos e projetos de lei que tramitavam no congresso e que repousavam no MEC, sendo finalmente desengavetados e com muita luta aprovados. O dia 7 de junho de 2006 ficará na memória e história de mais de trezentos professores e estudantes que compareceram ao plenário do CNE – Conselho Nacional de Educação. Com essa mobilização, a luta pela obrigatoriedade da Filosofia e da Sociologia no Ensino Médio deu uma virada na página e na concepção da política educacional brasileira. Em 02-06-08, foi sancionado o PLC 04/08, que alterou o Artigo 36 da LDB/96, selando de vez a volta do ensino das disciplinas Filosofia e Sociologia nas escolas de todo o Brasil!
Segundo o Professor Paulo Neves, da Secretaria Estadual de Comunicação da APEOESP:
“A segunda caravana que acompanhou a votação possibilitou inclusive a realização de um ato simbólico de comemoração no plenário do CNE, pelos professores presentes. Mostramos o peso e a importância do Estado de São Paulo e, em particular da APEOESP, para o êxito deste movimento. Vale destacar o significado desta conquista, que não se restringe apenas ao retorno das duas disciplinas ao currículo do Ensino Médio. Ela põe um freio na visão educacional neoliberal que tomou de assalto a educação brasileira nas últimas décadas com objetivo de flexibilizar e desregulamentar a profissão docente, sendo responsável pela desvalorização do trabalho do professor e, sobretudo pela precarização da educação”.
Do ponto de vista da Organização da Filosofia, o 1º Encontro Nacional de Filosofia e Sociologia realizado nos dias 22 a 24 de julho de 2007 no Anhembi-SP, foi um marco determinante nesse processo de consolidação  das disciplinas, que contou com  a  força direta  dos educadores, onde  definimos desde a proposta de realização do encontro, a organização  e na  coordenação do referido encontro. Entidades Nacionais como a UNE, UBES e outras  também contribuíram diretamente nesse processo e  no dia do Encontro, apresentamos em linhas gerais a necessidade de nos articularmos em nível nacional com o objetivo de  acumularmos ainda mais força  para a consolidação da disciplina de filosofia no ensino médio no Brasil inteiro.
Na época o prof. Aldo Santos apresentou aos delegados um documento básico da proposta organizativa dos professores de filosofia em nível nacional, realizamos uma plenária dentro do encontro e constituímos a Coordenação Nacional do Coletivo Nacional de Filosofia  que  dentre outros pontos propôs reforçar a nossa organização  nos Estados, para pressionarmos as Secretarias Estaduais  de Educação pela  imediata implantação da Filosofia, e ao mesmo tempo, nos organizarmos nacionalmente. Criou-se então o coletivo Nacional de Filosofia em 2007 e a luta ganhou expressão com a realização, em 2008, do IX Encontro  Estadual do Coletivo de Filosofia, Sociologia e Psicologia da APEOESP. Várias propostas foram aprovadas no sentido de fortalecer a nossa luta pela efetiva implantação da Filosofia no currículo do Ensino Médio.
 O Encontro Nacional  viabilizou a idéia e as condições objetivas dos professores de filosofia e filósofos do Estado de São Paulo  no sentido de se constituir um campo próprio de reflexão, elaboração e contribuição do pensamento  acadêmico com o mundo do trabalho em que vivemos. Uma das polêmicas centrais do IX Encontro do Coletivo de filosofia, Sociologia e Psicologia da APEOESP foi o enunciado da nossa proposta sobre a necessidade da fundação de uma entidade dos filósofos, concebida sem a pretensão ou preocupação de concorrer com o sindicato estadual dos professores, haja vista que  do ponto de vista sindical global  estamos muito bem organizados e abrigados nesta entidade.
Nosso objetivo foi apresentado e aprovado nas resoluções finais do encontro. Em Setembro de 2009 toma posse a primeira Diretoria eleita da Associação dos Professores de filosofia e filósofos do Estado de São Paulo – APROFFESP - numa Plenária Estadual realizada no dia 26 de Setembro de 2009, na Rua Carlos Petit, nº 199, Vila Mariana. Os membros eleitos tomaram posse, tendo por base o resultado das eleições realizadas no dia 26/08/2009, com a votação de 226 professores no Estado (foto da posse).
Hoje devemos nos unir e nos organizar ainda mais pela ampliação da carga horária, pela introdução da filosofia no ensino fundamental, abrir concurso para contratação de mais professores, além da pauta comum dos sindicatos que defendemos, apoiamos e militamos para que as mesmas se efetivem. Devemos também construir coletivamente as ferramentas e conteúdos curriculares, que assegurem a formação propedêutica, sem banalizar ou subtrair o conteúdo crítico e o caráter revolucionário da própria filosofia.
Para nós da Associação, a organização dos trabalhadores, nas mais variadas manifestações no mundo do trabalho, é fundamental e indispensável  rumo aos avanços numa perspectiva transformadora e de superação das condições desumanas hoje existentes na sociedade brasileira e no mundo.
Organizar é preciso!!!

         Posse da diretoria da APROFFESP: Aldo Santos: presidente, Wanda: vice-presidente, Gilmar: tesoureiro, Jesus: secretário geral, Chico Gretter: normas pedagógicas, Jairo: relações externas e Alan: comunicação.

A filosofia no contexto do debate atual.

“A filosofia está presente na vida de todos. No mundo ocidental, costuma-se dizer que remonta aos gregos. De uma perspectiva mais ampla, podemos dizer que ela está presente na vida do ser humano desde um tempo imemorial, anterior às primeiras civilizações. Dos primórdios do Homo sapiens até as primeiras organizações humanas, cada atitude individual ou coletiva, cada fenômeno físico ou avanço técnico, cada nova percepção dos meandros da alma humana foi entremeada por ações  passíveis de análise filosófica.
Fundamentação teórico-pedagógica
A disciplina de filosofia tornou-se obrigatória na grade curricular das escolas de Ensino Médio a partir de junho de 2008, com a aprovação da Lei n° 11.684[1]. Essa nova lei reforçou um parecer do Conselho Nacional de Educação (CNE), de 2006, que incluía as disciplinas de filosofia e sociologia no Ensino Médio, mas não definia em que séries elas deveriam ser implantadas.
Em 1971, o ensino dessas disciplinas foi suprimido e substituído por aulas de Educação Moral e Cívica e Organização Social e Política Brasileira (OSPB), com o intuito claro de reduzir as possibilidades de ensino crítico e de formação do pensamento autônomo na trajetória escolar.
Nos anos de 1980, com o fim do regime militar e o fortalecimento dos movimentos democráticos, o debate sobre o retorno do ensino de filosofia ganhou novos contornos. Desde então, a disciplina de filosofia no Ensino Médio tem sido entendida como componente curricular relevante na formação da consciência crítica dos alunos. Na versão inicial dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN)[2], publicada em 1999, a filosofia constava como conhecimento curricular específico, cujas competências e habilidades deveriam ser contempladas no programa de Ensino Médio.
O ensino de filosofia encontra-se articulado à área de Ciências Humanas e suas Tecnologias, ao lado dos componentes curriculares geografia, história e sociologia. Na história da educação brasileira, a filosofia oscilou entre períodos de ausência sistemática e fases de inserção opcional; no entanto, na prática, conteúdos e temas filosóficos sempre contribuíram de um modo assistemático com as reflexões do ensino de história, geografia e, às vezes, literatura.
Recentemente, a inclusão obrigatória da filosofia no Ensino Médio transformou esse quadro e criou um enorme desafio para professores e autores de materiais de ensino: pela primeira vez na história da educação brasileira de ensino público, democratizado e praticamente universal inclui a filosofia como componente da grade curricular.
Esse desafio se consubstanciava na massificação (em termos qualitativos e quantitativos) que se observa nessa etapa da trajetória escolar brasileira, aliada à precária condição em que chega esse alunado (por questões estruturais da educação brasileira), detentor de uma formação que passa distante de qualquer preocupação com abstrações e conflitos éticos, dois dos principais focos da filosofia.
Este livro define a filosofia como um campo de conhecimento autônomo, centrado na perspectiva da atividade e do pensamento filosófico e, portanto, marcado por um método, assim como por um conjunto de conceitos e temas centrais. Todavia, foi nossa preocupação também estabelecer um diálogo interdisciplinar com os componentes  da área de Ciências Humanas.
Segundo os objetivos traçados pelos parâmetros Curriculares Nacionais – detalhados no Edital do Programa Nacional do Livro Didáticos para 2012 - ,  um livro de filosofia, no Ensino Médio, deve incentivar a constituição da “autonomia, da reflexão e da pluralidade de perspectivas sob as quais são consideradas desde e experiência social imediata até o conjunto de saberes estabelecidos[3]”. Esse princípio geral tem, pelo menos, três desdobramentos importantes que caracterizam a confecção desta obra.
Em primeiro lugar, a compreensão de que o ensino de filosofia deve se conectar às indagações da experiência cotidiana e, a partir delas, construir os conceitos e os princípios dos pensamento filosófico. Esse movimento fundamental abre a maioria dos capítulos: a indagação e o estranhamento diante de atos, sentidos e ideais corriqueiras e perante a percepção imediata e a vivência mais comum. Essa perspectiva supera, assim, a noção de filosofia como conhecimento erudito, um saber distante do mundo material, das preocupações mundanas, dos anseios individuais e doa conflitos sociais, restrito, portanto, apenas a iniciados e a alunos “inteligentes”.
Em segundo lugar, a filosofia, neste livro, pressupõe o estudo da história da filosofia e das condições  materiais que deram forma e sentido ao surgimento e ao desenvolvimento da atividade filosófica. Entre a história social, econômica e o pensamento há, pois, uma inter-relação complexa: de um lado, a filosofia expressa os dilemas de seu tempo, procurando responder aos questionamentos nascidos da experiência concreta dos seres humanos em uma determinada sociedade; de outro, a filosofia também tem sua história, constituindo, por isso, um diálogo permanente com a sociedade à medida que lança novos olhares e influencia as transformações culturais. Nessa perspectiva, não há “fatores”, “causas” e “conseqüências”, mas desdobramentos do pensamento filosófico no interior de processos históricos mais amplos.
Finalmente, o terceiro traço marcante desta obra refere-se à constituição de um método próprio da filosofia que a diferencia das outras Ciências Humanas e lhe permite operar determinados objetos sob um ponto de vista único, original. Os fundamentos do método estão explicitados nos capítulos 1 e 2, mas percorrem toda a estrutura do livro.
Trata-se de compreender a filosofia como “pensamento sistemático”, isto é, resultado do trabalho intelectual e da apropriação de determinadas ferramentas de análise, reflexão e crítica sobre o ser humano, suas idéias e sua interação com o mundo. Assim, afastamos a filosofia de outro risco: a vulgarização da atitude filosófica, considerada um simples conjunto de idéias e opiniões.
Esse é um perigo bastante comum no Ensino Médio, já que a transformação do programa de filosofia em uma conversa mais ou menos organizada entre alunos e professor é recorrente em sala de aula. Deve-se considerar, contudo, que, embora fundamental, o diálogo não é a finalidade da disciplina, mas um meio pelo qual determinados conceitos são construídos coletivamente e um instrumento para que as múltiplas opiniões sejam analisadas, discutidas, aprofundadas e transformadas pela atitude filosófica.
Para entender a todos os objetivos acima explicitados, esta obra foi estruturada em duas grandes partes: “ a atividades teórica” e a “atividade prática”. Na primeira, organizam-se os conceitos fundamentais (razão, verdade, conhecimento) e as principais ferramentas do pensamento filosófico ( a lógica e a metafísica); na segunda, constituem-se os campos de investigação da filosofia sobre a experiência humana: a cultura e as artes, a religião, a ciência, a ética e a política. Nesse percurso, acreditamos percorrer o longo caminho da formação e dos desdobramentos do pensamento filosófico, levando em conta a diversidade de temas e a pluralidade de concepções e tradições filosóficas.
Objetivos Gerais
Três são os objetivos que norteiam a obra:
1.       Apresentar os conceitos fundamentais do pensamento filosófico ocidental, constituído historicamente, como ferramentas de formação da atitude filosófica;
2.       Colaborar para a reflexão sobre as relações entre concepções filosóficas e as condições históricas e a vida cotidiana;
3.       Desenvolver o espírito crítico e a reflexão filosófica sobre questões contemporâneas, contribuindo para a criação e o fortalecimento de práticas solidárias com  própria comunidade.


Interpretar a palavra é interpretar o mundo.

Entendemos que a tarefa fundamental do ensino de filosofia é contribuir para a formação do pensamento crítico. Isso significa dotar o aluno de ferramentas que o tornem cada vez mais capaz de interpretar os textos, analisar os conceitos e, simultaneamente, compreender melhor o mundo, identificando as questões centrais da contemporaneidade e estabelecendo nexos e relações com outros momentos da história do pensamento humano. Recordando Paulo Freire, leitura da palavra e leitura do mundo são indissociáveis. O ensino de filosofia, portanto, pressupõe um vínculo indissociável com o mundo ao nosso redor.”
Obs.
Texto publicado no livro da filósofa Marilena Chauí, no manual do professor, respectivamente nas paginas, 3,4,5, manual do professor, volume único. A parte introdutória também faz parte do mesmo compêndio e esta na página 3 da apresentação.
Bibliografia: Chauí, Marilena,
Iniciação a Filosofia: ensino médio, volume único, Editora ática, 2010




[1] MEC. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Disponível em: http://planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei?L11684.htm> Acesso em: abril de 2010

[2] MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais – Ensino Médio. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/blegais.pdf> Acesso em: abril de 2010

[3] Programa Nacional do Livro Didático – PNLD 2012. Ciências Humanas e suas tecnologias, p. 26. Disponível em: http://www.fnde.gov.br/index.php/edital-pndl-2012-ensino-medio Acesso em: abril de 2010.