domingo, 18 de setembro de 2011

Eric Hobsbawn: Grundrisse são “o pensamento de Marx no seu apogeu”

No seu artigo “Descobrindo os Grundrisse” – escrito como introdução à primeira edição em inglês da obra de Marx, publicada em 1964 – Hobsbawn relata como o lugar desse texto fundamental na obra do Marx e seu destino são peculiares. Em primeiro lugar, porque “são o único exemplo de um importante conjunto de escritos maduros de Marx, que, para efeitos práticos, foram totalmente desconhecidos para os marxistas durante mais de meio século depois da morte de Karl Marx, e, de fato, quase impossíveis de encontrar até quase um século depois da composição dos manuscritos que levaram esse nome”.

Emir Sader

Em segundo lugar, a publicação dos Grundrisse no que poderia ser considerada “a menos favorável das condições”, isto é, na URSS e na República Democrática Alemã em plena “era de Stalin”. A terceira peculiaridade é a “persistente incerteza sobre o status dos manuscritos de 1857-1858 refletida no nome flutuante” dos textos até o momento em que se adotou o título de Grundrisse.

A data da sua verdadeira publicação – final de 1939 – significa que permaneceram quase totalmente ignorados no Ocidente até sua reedição em 1953, em Berlim Oriental.

A descoberta interacional quase simultânea das obras de Gramsci, junto com a dos Grundrisse tiveram como função “libertar o marxismo da camisa de força da ortodoxia soviética”, segundo Hobsbawn. Assim, “não é fácil separar os debates sobre os Grundrisse do cenário político em que se produziram e que os estimulou”.

Como avaliação global sobre o conjunto da obra, Hobsbawn é categórico: “Trata-se de um texto enormemente difícil em todos e em cada um dos seus aspectos, mas enormemente gratificante, ainda que fosse só pelo fato de que proporciona o único guia a todos os tratados de que O Capital é apenas uma fração e uma introdução única à metodologia do Marx mais maduro”. Contém análises e esclarecimentos, entre outros temas, sobre tecnologia, que levam ao tratamento de Marx muito além do século XIX, à era de uma sociedade em que a produção já nao requer trabalho de massas, de automação, de potencial de ócio e transformações da alienação nessas circunstâncias.

Para concluir, enfaticamente: “É o único texto que supera as próprias predições de Marx do futuro comunista na Ideologia Alemã. Em poucas palavras, foi qualificado acertadamente como ‘o pensamento de Marx no seu apogeu’”.

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Emir Sader nasceu em São Paulo, em 1943. Formado em Filosofia pela Universidade de São Paulo, é cientista político e professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). É secretário-executivo do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso) e coordenador-geral do Laboratório de Políticas Públicas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). Coordena a coleção Pauliceia, publicada pela Boitempo, e organizou ao lado de Ivana Jinkings, Carlos Eduardo Martins e Rodrigo Nobile a Latinoamericana – enciclopédia contemporânea da América Latina e do Caribe (São Paulo, Boitempo, 2006), vencedora do 49º Prêmio Jabuti, na categoria Livro de não-ficção do ano.